Esther Saladin, Inês Rebelo e Silvia Rosani - Residência Artística


17-30 dezembro 2018
Residência artística DME em Seia
com
Silvia Rosani música
Esther Saladin violoncelo
Inês Rebelo artes visuais

WHITE MASKS – projecto interdisciplinar
Silvia Rosani, Esther Saladin e Inês Rebelo

White Masks é um projecto iniciado por Esther Saladin e Silvia Rosani que se desenvolve em violoncelo, música electrónica e máscaras ressonantes, e que se centra em ‘perda’ e ‘transição’. Em particular, o projecto refere-se à perda que as pessoas têm de enfrentar sozinhas numa sociedade cada vez mais individualista, e à perda de comunidades e tradições musicais que os refugiados atravessam quando se veêm forçados a sair dos seus países. A ideia é criar uma comunidade na forma de objectos que ressoam com memórias do ciclo das performances, interligadas com textos pré-gravados de Frantz Fanon, Samuel Beckett, Hans-Peter Dürr e Hilde Domin, e com contribuições áudio das diversas audiências com as quais o projecto entra em contacto. Durante a performance, as composições de Rebecca Saunders (Solitude) e Silvia Rosani (Cera) alternam com o intermezzi, que inclui música electrónica processada em tempo real, improvisação de violoncelo e ressonâncias dos objectos posicionados à volta do espaço onde se desenrola a performance, objectos estes designados por Esther Saladin e Silvia Rosani como máscaras. No dia ou dias anteriores à performance, uma instalação irá permanecer no local de modo a que as pessoas possam deixar a sua contribuição áudio para o projecto, a qual será incluída no intermezzi da performance seguinte. Deste modo, progressivamente, o projecto irá sendo enriquecido pelas contribuições das comunidades locais. O projecto tem raízes profundas nas pesquisas de Silvia Rosani em como fortalecer a relação entre texto e música através da análise de vozes humanas proferindo textos em contextos sócio-politicos pré-estabelecidos. Esta pesquisa de investigação levou Esther Saladin e Silvia Rosani a interessarem-se por tradições musicais não-Ocidentais e línguas clique, e levou à adopção de abordagens integradas de modo a apagar a distinção entre compositor, performer e audiência.
Inês Rebelo contribui para White Masks, realçando o conceito de outro. As dinâmicas políticas presentes no encontro entre diferentes comunidades e culturas, tal como são descritas no âmbito do pós-colonialismo, encontram um paralelismo nas nuances dos modos de relação entre o outro e o eu, os quais são expostos na filosofia continental. O outro, diferente, alternativo, restante, ou seguinte é por vezes usado para referir uma coisa diferente daquela que já foi mencionada e, por vezes, designa um outro eu, uma outra entidade completamente distinta. Inês Rebelo aborda o outro em termos abstractos. O outro e o eu enquanto formas diferentes podem encontrar-se através de confronto, apropriação, em diálogo ou através de uma combinação destes modos de relacionamento. De um modo mais complexo para Hegel, o outro pode ainda funcionar como espelho do eu, enquanto consciência de si próprio ou, tal como Michael Taussig descreveu em Mimesis and Alterity a reprodução de semelhança pode paradoxalmente manter a diferença.
Hoje em dia estes modos de relação entre o outro e o eu existem, mas parecem também inevitavelmente ampliados pela horizontalidade de redes de conexão ativadas por avanços científicos, através de ecrãs e dispositivos tecnológicos que possibilitam a existência de avatares, de outras identidades e que permitem acesso sincrónico a diferentes realidades num mesmo sítio, aproximando distâncias longínquas, tornando outros-sítios familiares.
Em White Masks, o universo de interesses de Esther Saladin, Silvia Rosani e Inês Rebelo entra num diálogo experimental, explorando possíveis novos modos de relação e interacção em diferentes disciplinas e formas de arte, através da abordagem multifacetadas das suas práticas e pesquisas.















Estreia

Great Hall, Goldsmiths, University of London
21-24 November 2016

Violoncelo, Esther Saladin
Música electrónica processada em tempo real, Silvia Rosani
Música de Silvia Rosani, Rebecca Saunders e Ori Talmon
Artista plástica, Inês Rebelo
Vídeo e fotografia, Ashley Simpson

Apoios de:
Francis Chagrin Award,
Institute of Musical Research (IMR)
Goldsmiths Annual Fund 2017

Video trailer: https://vimeo.com/202601206/d572cdbc31

Apresentação final da residência
Dia 27 de dezembro de 2018, no Festival DME 62.
http://www.festival-dme.org/2018/08/dme-62.html


Biografias

Silvia Rosani

Silvia Rosani estudou Composição em Udine (Itália) e na Universidade Mozarteum em Salzburgo (Áustria) e frequentou masterclasses com Klaus Huber, Brice Pauset, Beat Furrer e Salvatore Sciarrino. As suas peças foram interpretadas por ensembles como ÖENM, Zahir Ensemble, Platypus Ensemble e Vocal Arts Stuttgart. Em 2010, a sua composição ‘La nube e Issione’ ganhou o primeiro prémio no Concurso de Composição "Vocal Arts" e foi apresentada na Bienal de Salzburgo. Em 2013, Silvia recebeu a Medalha Bernhard-Paumgartner pela Fundação Mozarteum.
Silvia Rosani é licenciada em Engenharia Electrónica e também trabalha com software para electrónica em tempo real e análise de som como Puredata, Spear e Audiosculpt, que utilizou para compor uma ópera de câmara, Versteinerte Flüge, que foi apresentada no ARGEkultur Theater em Salzburg, em 2011.
Durante uma residência de cinco meses na Akademie Schloss Solitude, trabalhou na peça T-O, uma composição para cinco vozes, que foi estreada no Festival ECLAT 2014 pelo Neue Vocalsolisten e apresentada novamente pelo ensemble no MATA Festival 2014, na Bienal de Veneza, Teatro da Zarzuela (Madrid), Centro Kursaal (San Sebastian) e em Atenas, no Centro Cultural Onassis, em 2016. White Masks, um ciclo para violoncelo, electrónica em tempo real e máscaras ressonantes desenvolvido em colaboração com a violoncelista Esther Saladin, obteve o Prémio Francis Chagrin em 2015, uma bolsa de ‘Public Engagement’ do ‘Institute of Musical Research’ (IMR) e o apoio do Goldsmiths Annual Fund (2017).
Silvia Rosani conclui recentemente o Doutoramento em Música (Composição) na Goldsmiths, Universidade de Londres, sobre como fortalecer a relação entre texto e música através da análise sonora de vozes de animais humanos e não humanos. Trabalha como professora associada na Universidade de Cardiff e na Goldsmiths, Universidade de Londres.

Esther Saladin

Esther Saladin, uma jovem violoncelista suíça e aluna bolseira da ‘Internationale Ensemble Modern Akademie’, é uma intérprete multifacetada: como solista e músico de câmara, as suas performances abrangem desde repertório ‘standard’ até à música clássica dos séculos XX e XXI. As suas atividades artísticas atribuem um lugar de destaque a música improvisada livre e projetos que transcendem definições fixas de direções ou estilos. Além disso, Esther Saladin é membro do Quarteto Améi, que se dedica principalmente a estrear e apresentar obras contemporâneas.

Criada numa família de músicos em Zurique, iniciou as aulas de violoncelo e piano ainda criança. Os seus primeiros professores foram Reto Cuonz e Rebecca Firth (violoncelo), assim como Lorenz Rey e Margie Wu (piano). Os seus primeiros recitais a solo, que contaram com concertos para violoncelo de Camille Saint-Saëns e Joseph Haydn, bem como a obra ‘Kol Nidrei’ de Max Bruch, deram a Esther Saladin um encorajamento significativo, estimulando o seu desejo de seguir uma carreira musical.

Esther Saladin estudou com Conradin Brotbek na ‘Musikhochschule Stuttgart’ até 2012, enquanto adquiria conhecimento valioso adicional através de masterclasses com Wen-Sinn Yang, Claude Starck, Martina Schucan e Emilio Colon. Também em 2012, formou-se com distinção pela ‘State University of Music and the Performing Arts Stuttgart’, obtendo um Mestrado em Música Contemporânea para Violoncelo, no seguimento de um ano extremamente instrutivo enquanto membro e bolsista na ‘Internationale Ensemble Modern Akademie’ em Frankfurt am Main, Alemanha.

Esther Saladin obteve prémios e distinções em várias competições; mais recentemente, o Primeiro Lugar no Prémio Boris Pergamenshikov 2016 em Música de Câmara e o Segundo Lugar no Prémio Boris Pergamenshikov 2013 em Música de Câmara (com o Quarteto Améi). Venceu também o Primeiro Prémio no Jecklin Kammermusiktreffen em Zurique, em 2003, e o Prémio de Patrocínio de 2012 da fundação Polytechnische Gesellschaft (com o Quarteto Améi, anteriormente conhecido como o Quarteto IEMA).

Os seus antigos projetos incluem concertos no Tonhalle em Zurique; no ZKM Center for Art and Media Technology em Karlsruhe; em colaboração com as estações de rádio WDR e Deutschlandfunk Köln; na Filarmónica de Colónia; no Staatstheater em Wiesbaden (com o Ensemble Modern); no Gaudeamus Music Festival, em Utrecht (Holanda); e no Teatro Comunale di Bolzano (Itália). Estes concertos foram dirigidos por artistas como Marc Kissoczy, Massimiliano Matesic, Johannes Kalitzke e Christof Brunner. Tal como no passado, os seus empreendimentos musicais continuam a ser reforçados e estimulados através de colaborações com compositores como Nicolaus A. Huber, Helmut Lachenmann e Manfred Stahnke, bem como vários jovens compositores emergentes.

Esther Saladin trabalha atualmente na complexa e interdisciplinar performance ‘WHITE MASKS’ em colaboração com Silvia Rosani e Inês Rebelo.

Esther Saladin vive e trabalha como músico freelancer em Frankfurt am Main, na Alemanha.

Inês Rebelo

Inês Rebelo (n. 1981, Lisboa) vive e trabalha em Londres. Estudou pintura, concluindo com distinção a licenciatura na Faculdade de Belas-Artes de Lisboa, e terminou o mestrado em artes plásticas na Goldsmiths, University of London. As suas pesquisas desenvolvem-se entre pintura, desenho e instalação incluindo, por vezes, projetos site-specific e estendendo-se em colaborações com diversos agentes culturais.

No centro da prática artística de Inês Rebelo encontramos uma expedição astronómica. Grande parte da experiência do seu trabalho implica uma relação entre o mundo interno da Terra e o mundo exterior do espaço extraterrestre, entre o "agora" terrestre e o "depois" cosmológico, precipitando um avanço intrínseco no domínio do cosmos. Os seus últimos trabalhos abordam o conceito de ‘outro’, estabelecendo um paralelismo entre a dinâmica política do encontro entre diferentes comunidades e culturas, tal como descrito em teorias pós-coloniais, e diversos peculiares modos de relação entre ‘outro’ e ‘eu’, referenciados em filosofia continental.

O seu trabalho tem sido apresentado em exposições na Alemanha, Brasil, Colômbia, Espanha, Itália, Portugal, Reino Unido, Suíça e tem sido objeto de várias publicações. Do seu percurso, salientam-se exposições individuais em Curitiba (Ybakatu), Londres (The Bun House; The Old Police Station) e Lisboa (Galeria Monumental; Paulo Amaro Contemporary Art), bem como exposições coletivas na Fundação EDP, Porto; National Glass Centre, Sunderland; Kunstverein Speyer, Speyer; Museo de Arte Contemporaneo Union Fenosa, A Coruña; Museu Nacional de Ciência e Técnica, Coimbra; Globe Gallery, Newcastle upon Tyne; ASC Gallery, Londres, ENCLAVE, Londres (Deptford X), Seventeen Gallery, Londres; Gasworks, Londres; Chiado8, Lisboa; Estufa Fria, Lisboa (Antecip’Arte) e ZDB, Lisboa, entre outras. Destaca-se ainda a recente participação na bienal Glasgow International 2018, em Glasgow. 

Inês Rebelo foi bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian e recebeu uma menção honrosa no Prémio Fidelidade Mundial. É atualmente professora assistente na Birkbeck, University of London, onde leciona desde 2011.




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