Recital - Luís Gomes e Ana Telles

 



ANA TELLES E LUÍS GOMES | 21 MAR | 17h | Lisboa Incomum

O Festival DME recebe Ana Telles e Luís Gomes, num recital de clarinete baixo e piano, no dia 21 de Março pelas 17h. O programa conta com obras de Christopher Bochmann, Pedro Francisco, Anne Vitorino d'Almeida, João Nascimento, Pedro Figueiredo e Jean-Sébastien Béreau. Este recital irá ser transmitido através das redes sociais (Facebook e YouTube) do Festival DME.


Assista ao concerto aqui.

Programa:

Christopher Bochmann (n. 1950 :: Reino Unido)
Dialogue IV - Flights of fancy (2015)
para clarinete baixo e piano

Pedro Francisco ( :: Portugal)
Dança sem nome* (2018)
para clarinete baixo

Anne Victorino D'Almeida (n. 1978 :: Portugal)
Nocturno* (2018)
para clarinete baixo e piano

Anne Victorino D'Almeida (n. 1978 :: Portugal)
Diurno (2015)
para clarinete baixo e piano

Pedro Figueiredo (n. 1966 :: Portugal) 
WAKE! First we feel, than we fall...* (2020)
para clarinete baixo

João Nascimento ( :: Portugal)
Crónica de uma peça anunciada (2012)
para clarinete baixo

Jean-Sébastien Béreau (n. 1934 :: França)
Le Saut de l'auge (2015)
para clarinete baixo e piano

Luís Gomes - Clarinete
Ana Telles - Piano

* - obras em estreia

Christopher Bochmann 

Dialogue IV – Flights of fancy (2015), para clarinete baixo e piano


Dialogue IV é a quarta numa série de obras para dois instrumentos de famílias diferentes, iniciada em 1980, nas quais cada instrumento tem secções relativamente extensas de solos ou escrita quase-solista. Dialogue I é para flauta e percussão; Dialogue II para violoncelo e piano; Dialogue III para violino e fagote. A música alterna claramente entre momentos em que um ou outro dos instrumentos tem o discurso principal... e assim se cria o verdadeiro diálogo. 


Para além deste princípio geral, Dialogue IV tem a particularidade de ser, em muitos sentidos, um palíndromo, no qual nove secções se organizam em forma de espelho à volta de uma (quinta) secção central, que tem um caráter algo mais livre de cadência. 


Há duas secções (secções 4 e 6) em forma de cânone, cujo caráter é mais cerebral. As secções 3 e 7 são aquelas em que os dois instrumentos tocam mais em forma de duo. As secções 2 e 8 são mais melódicas, utilizando quartos de tom no clarinete. A primeira e última secções são gestos de abertura e de fecho, em que as funções instrumentais contêm algum elemento de espelho. 



Pedro Francisco

Dança sem nome (2018)*, para clarinete baixo solo


A peça para clarinete baixo faz parte de um conjunto de peças para instrumentos solo onde o compositor parte de um conjunto de objetos melódicos base que desenvolvem-se explorando as especificidades de cada um dos instrumentos escolhidos. Nesta “dança” o compositor explora o timbre e versatilidade do clarinete baixo explorando as suas ressonâncias e jogos tímbricos.



Anne Victorino D’Almeida

Noturno (2018)*, para clarinete baixo e piano

Diurno (2015), para clarinete baixo e piano


“Diurno e Noturno” ou “Noturno e Diurno”? A escolha do título está ao critério dos intérpretes, assim como decidir o que surge primeiro: a noite ou o dia.


Estas peças foram escritas e dedicadas ao clarinetista Luís Gomes. A ideia é poder tocar-se as duas obras de seguida (como se fossem andamentos de uma peça), com opção por parte do intérprete na sua ordem, significando a passagem de um dia completo. Tal não invalida a apresentação de cada uma das obras de forma independente.


Diurno, segundo as palavras de Sylviane Falcinelli, “Diurno é uma peça em chamas, com alusões ao latino e jazz, mas cheia de cores”. Foi a primeira obra que a autora escreveu para o clarinete baixo e que descreve como um retrato de si própria em cerca de 7 minutos de música. Escrita em 2015 e estreada nesse mesmo ano por Luís Gomes e Ana Telles, a composição retrata a agitação citadina, em movimento constante, pontuada aqui e ali por momentos de tensão que cedo se materializam em efeitos de “slap”, no clarinete baixo. Estes primeiros “sinais” dão o mote para a azáfama que caracteriza toda a obra. 


Noturno, composto três anos mais tarde que Diurno, explora o lado oposto, mais intimista, introspetivo, a serenidade do cair da noite, a calma, o relaxar da natureza e do ser humano. Procura o explorar das características melódicas e sonoras do clarinete baixo numa fusão intimista com o piano. Noturno pode ser o início da noite ou o fechar de um dia.  



Pedro Figueiredo

Wake! First We Feel, Then We Fall... (2020)*, para clarinete baixo solo 


“First we feel. Then we fall. And let her rain now if she likes ... for my time has come.”

In Finnegans Wake de James Joyce


Esta obra foi composta a partir das imagens e reflexões que a leitura de Finnegans Wake de James Joyce criou em mim e emerge do choque pessoal com a ideia de uma vida circular, com o conformismo do destino, com o deixarmo-nos vencer por uma realidade fechada sem alternativas. 


A nossa vontade e escolhas num instante específico influenciam todo nosso futuro. Esta obra é um “grito” de inconformismo, um símbolo de vontade contrariar a vida quando ela parece que tudo decidiu.


Como um fluxo de energia que rebenta as correntes que nos prendem a uma realidade que parece permanente e imutável, o clarinete baixo movimenta-se durante as duas secções da peça mantendo viva esta tensão vital, nas articulações, respirações e gestos.


O material rítmico é derivado e variado de uma mesma base que num processo cíclico de transformações sustenta a ideia de obsessão e de retorno incontrolado. Este mesmo recurso é usado na sucessão de campos harmónicos em toda a obra, sendo deixado ao intérprete a liberdade de encontrar formas de se libertar destes movimentos circulares sobrepostos.


Apesar da tradução imediata de “wake” ser despertar ou acordar, aqui o foco está no sentido duplo de tomada de consciência e de turbulência, ambas como solução para o tédio do retorno eterno.


Agradeço o desafio ao Luís Gomes que me estimulou a acabar esta peça e a quem dedico não só pelas suas qualidades como intérprete, mas porque em tempos decidiu que não ficaria preso a um vaticínio, mas que tornaria o impossível em possível.




João Nascimento 

Crónica de uma peça anunciada (2012), para clarinete baixo solo


Um dia recebi um telefonema do compositor Eurico Carrapatoso dizendo: “Como penso que tens uma peça para clarinete baixo disse ao Luís Gomes que lha enviarias”.


De facto, eu tinha apenas algumas ideias sobre uma peça para clarinete baixo. Crónica de uma peça anunciada nasce desta maneira e tenta retratar o extraordinário instrumento que é o clarinete baixo na sua sonoridade e versatilidade.


Tenta ser também um “abraço musical” dado ao meu amigo Luís Gomes.



Jean-Sébastien Béreau

Le Saut de l’Ange (2015), para clarinete baixo e piano


O “salto do anjo” é uma das figuras clássicas de mergulho em piscina.


Neste caso concreto, representa o derradeiro salto de um homem particularmente sensível; assombrado pelo seu passado de oficial superior da Força Aérea, e nessa condição encarregado, em tempos, de operações de “limpeza” do terreno, revivia constantemente os apocalipses provocados pelas suas missões.


Após ter lutado com todas as suas forças para continuar a viver, apesar dos pesadelos que o atormentavam, acabou por se lançar no vazio... Que tenha encontrado paz e repouso junto daquele que “seca todas as lágrimas”.


A obra, escrita em Maio-Junho de 2015, é dedicada a João Galhardas (in memoriam), a Luís Gomes e a Ana Telles.
















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