Residência Artística Lisboa 2023 | Salomé Pais Matos + João Quinteiro
Residência Artística em Lisboa
Espacialização | Salomé Pais Matos + João Quinteiro
7 a 12 de Novembro de 2023
Apresentação Final: 12 de Novembro de 2023, 19h30 | Lisboa Incomum
Integrada no Ciclo de Residências Artísticas DME, o espaço Lisboa Incomum recebe Salomé Pais Matos, harpista portuguesa, em Residência Artística com o compositor João Quinteiro.
A apresentação final da residência será no Lisboa Incomum, a 12 de Novembro de 2023, pelas 19h30. A entrada é gratuita mediante reserva para lisboaincomum@gmail.com
O programa apresentado é uma contemplação ao som, ao silencio, à espera, à suspensão, ao suspense e à observação. Convida-se o público a parar e sentir a atmosfera de obras de diferentes cosmos.
Programa
Clotilde Rosa: Estudo VIII (1998)
Sara Ross: Espera (2014)
Mariana Vieira: O lugar Suspenso (2017)
Filipe Pires: Figurações IV(1970)
João Quinteiro: Penélope, meio-dia (2023)*
*estreia mundial, encomenda Projecto DME
Estudo VIII, Clotilde Rosa (1998):
Pertencente ao livro de estudos sobre técnicas de escrita contemporânea para harpa, desenvolvido entre 1983 e 1998, pela compositora e pedagoga Clotilde Rosa, foi, e continua a ser, um “amouse bouche” à estilística musical moderna para muitos estudantes deste instrumento.
Espera, Sara Ross (2014):
Obra encomendada pela Antena 2 - RTP para a 28a Edição do Prémio Jovens Músicos, que segue o seguinte prefácio: “O ponteiro do relógio contraria a espera que aparenta congelar o tempo. Ela põe o brinco – o seu brilho multiplica por mil a luz ansiosa que dança com as sombras do seu rosto. No seu sorriso, a dúvida se é hoje que põe batom.
Olha-se ao espelho, divaga pelo salão que ganha forma nas suas costas, imagina o desencadear da acção. Um turbilhão de gestos anestesia-lhe a percepção dos passos vezes sem conta ensaiados segundo teorias ausentes. Esperanças eternamente por concretizar. Lá fora já se ouve qualquer coisa - quiçá o baile terá começado.”
O lugar Suspenso, Mariana Vieira (2017):
Obra premiada, é uma extraordinária harmonia entre a electrónica, os seus efeitos, e o som da harpa. Contem a simplicidade da suspensão de fraseado, harmónicos, glissandos, entre outros efeitos conduzidos com fluidez. É um real dueto, onde é difícil perceber onde termina o som da harpa e inicia o da electrónica. É uma exploração astuta da sonoridade da harpa e das suas "vozes" contemporâneas em lugar suspenso.
Figurações IV, Filipe Pires (1970):
Do Ciclo de Figurações escritas entre 1968 e 2001, todas construídas sobre a mesma série dodecafónica, o autor explora as possibilidades de seu desenvolvimento mediante as características de cada instrumento. A obra para harpa, estreada por Clotilde Rosa, conserva a premissa de ser aberta, com cinco âmbitos que se alteram, podendo ser combinados de diversas maneiras, traduzindo cada execução num objecto distinto.
Penélope, meio-dia, João Quinteiro (2023):
“Está na cozinha, a sopa ao lume, os pratos na
mesa, talheres para dois, como se ele viesse. Hoje.
Ele não volta, anda embarcado há muitos anos num
navio com sal e ferrugem nos porões. Mas ela espera,
sabe que ele pode chegar a qualquer momento. Às
vezes espreita a telenovela ou as ervas a crescer junto
ao muro do quintal. No resto do tempo, faz e desfaz
o mesmo naperon, para enganar as horas, o frio,
a solidão e um corpo esquecido do que é o amor.”
José Mário Silva em “Nuvens e Labirintos”
“Penélope, meio-dia” é uma encomenda do Projecto DME e integra o conjunto de obras satélite que orbitam em torno do projeto de ópera “Regresso” e toma como ponto de partida o poema homónimo de José Mário Silva. A obra é escrita para harpa espacializada e actriz, contudo na presente performance, por impossibilidade de agenda da actriz que estava convidada a interpretar o papel de Penélope, foi tomada a opção de fazer a peça sem este elemento performático.
Penélope habita o tempo infinito de quem espera pela chegada do próprio tempo que se desdobra e multiplica na tensão contemplativa de um horizonte ausente de Ulisses. A obra propõe, nesta medida, a criação de um espaço onde a tensão e a contemplação, tal como a esperança e a angústia, se sobrepõem num ponto de fuga comum.
Salomé Pais Matos é uma harpista portuguesa multifacetada.
Iniciou os estudos de Harpa no Conservatório Nacional de Lisboa. Estudou Composição com Eurico Carrapatoso e Música Contemporânea com Clotilde Rosa.
Em 2010, prosseguiu estudos no Conservatório Giuseppe Verdi di Milano, obtendo o nível de Mestre de Harpa em performance solística. Detém, também, o nível de Mestre em Ensino da Música, pela ESML.
Desde 2006, desenvolve um intenso trabalho na área da Música nas mais diversas formações e actividades. Participou em Musicais, com Filipe La Féria e Nuno Feist. Colabora com Victor Gama, com projectos de multi-instrumentalismo, contando com diversas apresentações internacionais, desde 2010, em Londres, Amsterdão, Bogotá, Luanda, etc. Realizou participações especiais no Festival de BD da Amadora, na Gala das Mulheres Empreendedoras Europa/África, Festival da Canção, Rio Harp Festival, Journées Internationales de la Harpe, etc.
O seu trabalho regista várias gravações discográficas, estreias de obras, projectos multi-disciplinares e colaborações com vários artistas, compositores, coreógrafos e encenadores. Gravou com diversos artistas e compositores, como John Psathas, Pedro Carneiro, Anne Victorino D’Almeida, Bastien Baumet, Rui Veloso. Em 2017, interpretou a obra de Mariana Vieira, vencedora do concurso de composição “Música em Criação”. Tem colaborado em projectos dedicados à música contemporânea, como o Capdeville Ensemble, Lisbon Ensemble XX/XXI e MPMP. Presentemente, integra a tour “Lado Bom”, de Rita Redshoes.
Tem colaborado com as orquestras de maior destaque nacional, como a Orquestra Gulbenkian, Sinfónica Portuguesa, de Câmara Portuguesa, Lisbon Film Orchestra, etc.
Tem, também, um papel pedagógico no ensino da Música e na divulgação do seu instrumento. Em 2020, lançou o projecto “harpaXXI.pt”, traduzido no formato de CD e espectáculo, com vista à divulgação da composição portuguesa para harpa solo, do séc.XXI. Participou em vários projectos como o “Música Pra Ti”, da Fábrica das Artes, “Sinfonix”, Festival de Música de Almada. Como professora, preparou vários alunos que ingressaram no ensino superior nacional e internacional. Distingue o seu estilo de ensino como exigente e motivador, com vista à excelência artística e ao entusiasmo puro pela Música.
João Quinteiro é compositor, encontra-se em Doutoramento na FCSH - Kunstuniversität Graz - Fondazionne Archivio Luigi Nono.
Estudou com Isabel Soveral, João Pedro Oliveira, Evgueni Zoudilkine, Emmanuel Nunes e Beat Furrer, e contactado com compositores como B. Ferneyhough, P. Billone e H. Lachenmann.
Integra a Direcção da Associação Portuguesa de Compositores.
A sua música tem sido tocada e encomendada por formações e intérpretes nacionais como o Lisbon Ensemble 20/21, o GMCL - Grupo de Música Contemporânea de Lisboa, o OpuSpiritum Ensemble, o Duo Sigma, o Astrus Duo, o Kodu Percussion Group, o Ipsis Duo, Henrique Portovedo, André Correia, Marco Fernandes e formações internacionais como o Mise-en Ensemble (NY), Vertixe Sonora (Galiza) e o Projecto Creative Collision (Leipzig).
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