Residência Artística Seia 2023 | Clara Saleiro + Patrícia Sucena de Almeida



Residência Artística em Seia

Música que Diz | Clara Saleiro + Patrícia Sucena de Almeida

14 a 18 de Agosto de 2023

Apresentação Final: 18 de Agosto de 2023, 18h30 | Casa Municipal da Cultura de Seia


Na semana de 14 a 18 de Agosto, a Casa Municipal da Cultura de Seia acolhe duas residências artísticas. Estas juntam a soprano Andrea Conangla e a violoncelista Manuela Ferrão com a compositora Sofia Borges, e a flautista Clara Saleiro com a compositora Patrícia Almeida.

Ambas as residências giram em torno de duas novas criações inspiradas na obra de Fernando Pessoa.

São poucos os autores que relevam de um lugar tão fundamental e central como o que é ocupado por Fernando Pessoa no seio do cânone literário de expressão portuguesa. Tal não só é atestado pela profundidade com que a sua obra é lecionada já a nível do ensino básico, como a sua progressiva difusão - recordemos a recente biografia escrita por Richard Zenith - e internacionalização.

Fernando Pessoa é, portanto, uma figura incontornável do imaginário cultural português, recordando-se que este último é uma configuração não só determinada por juízos históricos e estéticos, mas também sociais, políticos e económicos. E enquanto escritor e poeta, por excelência, da alteridade, esta centralidade não deixa, frequentemente, de compreender algo de paradoxal.

Dada a sua importância, urge fazer releituras das obras de Fernando Pessoa. Com isto, não só se interpelam e questionam o imaginário cultural em que este se insere, como também permite dar continuidade ao espírito que permeia a obra Pessoana: o da alteridade.

Os concertos finais das residências serão de entrada gratuita e decorrerão no dia 18 de Agosto às 18:30, no Cineteatro da Casa Municipal da Cultura de Seia. O público será convidado a participar numa conversa pós-concerto com as artistas em residência. 


Programa:

Pedro Berardinellipara por [ca.  6'30'']
para flauta baixo solo (2018/19)

Patrícia Sucena de Almeida: Oscillum (oscillare-ondular, sacudir) - Lux oculos eius vulneravit (2023)*

Christina KubischEmergency solos (1974/75) [ca. 30]
para flauta

- It's so touchy

- Break

- Variation on a classical theme

- Stille Nacht

- Week-End

- Private Piece

- Erotika

- Untitled

*estreia absoluta, encomenda Projecto DME


*Oscillum (oscillare-ondular, sacudir) com subtítulo Lux oculos eius vulneravit - a luz feriu-lhe os olhos - para flauta, texto e cenário, desenvolve-se em 3 momentos, #1-2-3, com uma introdução e coda. Percorre 3 fases diferentes de uma existência, baseando-se na obra literária de Fernando Pessoa, especificamente Opiário, Ode Triunfal e Tabacaria. Podem ser executados como momentos autónomos ou em conjunto. Para além da utilização de partes de texto são palmilhados por citações mascaradas de compositores como Varèse, Debussy e Messiaen, mesmo que presentes são unicamente uma ilusão. Insiste-se na multifunção do instrumentista como actor-executante, mas também pode ser possível a divisão do seu ‘papel’ com um actor. No primeiro caso é necessária a gravação prévia de partes relativas ao texto e outras sonoridades específicas e no segundo a total execução será in loco.

Momentos:

#1 Decadentista caracteriza-se pelo tédio, monotonia, necessidade de novas sensações e de fuga.

#2 Futurista/Sensacionista caracteriza-se pela energia, agitação e euforia.

#3 Intimista/Pessimista caracteriza-se pela angústia, incompreensão, solidão, nostalgia, frustração.

#1, 2, 3 têm como elemento organizador, um mote baseado em dois versos da fase decadentista para criar uma ação contínua - “Vou cambaleando através do lavor/Duma vida-interior de renda e laca"- tendo-se dado especial enfoque à palavra cambalear - caminhar com falta de firmeza - que vai aparecendo com diversas versões - repetição de partes da palavra - ando - até se atingir a resolução na Coda. No final remete para um certo positivismo da ação - andar - abandonando o cambalear. Este elemento organizador/mote é acompanhado pela exploração sonora com a mistura do som do instrumento, do som da voz, do som percussivo e do som do cansaço, relacionado com a ação referida.

Nesta residência será partilhado o primeiro momento - oscillum #1. Refere-se à fase Decadentista que se caracteriza pelo tédio, monotonia, necessidade de novas sensações e de fuga, transmitidos através de várias camadas de material, que não estão sobrepostas, como seria de prever ao referir o termo camada, mas que vão sendo justapostas tendo um gesto geral e particular descendente/decadente que fica ou foge. O texto é introduzido durante o discurso musical, inicialmente como se fossem as palavras trazidas pelo vento -"É - "É por um” - funcionando como pistas, até ao aparecimento total "É por um mecanismo de desastres/Uma engrenagem com volantes falsos/Que passo entre visões de cadafalsos/Num jardim onde há flores no ar, sem hastes.” 




Biografias:


Clara Saleiro é uma flautista especializada na interpretação de música contemporânea que adora as experiências novas e desafios que a música lhe proporciona constantemente.

Interessa-se pelo processo criativo na construção de obras e espetáculos; pela interação entre intérprete e compositor, entre a música e outras áreas artísticas; pela simbiose com a música eletrónica e as tecnologias digitais; pela interpretação de música notada e pela improvisação.

Como membro fundador de Noviga Projekto (AT), bem como flautista dos ensembles Vertixe Sonora (ES), Barcelona Modern (ES) e SUPERNOVA (PT), estreia todos os anos dezenas de obras de compositores com quem trabalha diretamente e participa regularmente em festivais internacionais de música.

Clara Saleiro é convidada a colaborar regularmente com diferentes ensembles, orquestras e em variadas formações de câmara, que abrangem desde repertório clássico a contemporâneo, bem como com grupos de música exploratória e improvisada. É flautista do Pedro Melo Alves’ Omniae Large Ensemble (PT).

Iniciou os estudos musicais na Academia de Música S. Pio X de Vila do Conde. O seu percurso académico segue-se por instituições como a Artave, ANSO - Metropolitana, Universidade de Aveiro e Royal Academy of Music, em Londres. Especializou-se em música contemporânea no estúdio particular de Stephanie Wagner (Remix Ensemble); na Kunstuniversität Graz, na Áustria, onde realizou uma pós-graduação com o Klangforum Wien; e na Lucerne Festival Academy, na Suiça, sendo membro da Lucerne Festival Contemporary Orchestra. Frequentou o curso de improvisação da Interferência.

A presente temporada inclui a participação nos festivais Cultura em Expansão, Croma, DME, Vertixe10, Música Viva, Sampler, Barcelona Modern, Visions, bem como concertos na Alemanha, Áustria, Espanha, Luxemburgo e Portugal.



Patrícia Sucena de Almeida estudou Música Electroacústica e Composição com João Pedro Oliveira na Universidade de Aveiro e em 1997 finalizou a Licenciatura em Ensino de Música. Em 1998 obteve o Mestrado em Composição (Universidade de Edimburgo) e iniciou nesse mesmo ano o Doutoramento em Composição (City University of London), continuando posteriormente na Universidade de Southampton com Michael Finnissy. Finalizou o Doutoramento em 2004. Entre 2007-13 desenvolveu um projecto (Pós-Doutoramento) baseado na interação da música e outros media, criando um novo conceito que caracteriza as obras como multi-artísticas – Transversal Multi-Art.

Salientam-se no seu portefólio, as criações acústicas e interativas disciplinares, nomeadamente Solitudo (1999) (The International Gaudeamus Music Week 2001, Amesterdão); Argumentum (2001) (Porto 2001 – Capital Europeia da Cultura); Transfiguratio (2002) (Cours du Centre Acanthes 2002, Villeneuve-les-Avignon); Mens Sana in Corpore Sano (2003/05) (versão para orquestra, III Workshop para Jovens Compositores Gulbenkian, Lisboa, 2004); Monstrum Horrendum (2003/04) (versão para orquestra, II Workshop para Jovens Compositores Gulbenkian, Lisboa, 2003); Fatum Hominis (2005) (ISCM world Music Days/23rd Music Biennale Zagreb 2005; Ny Musikk 2005, Oslo); Silens Clamor (2004) (Académie de Chambre Contemporaine Jeunesse Moderne 2004, Chambéry; Musica 2007, Estrasburgo; Futuros 1.2, Lisboa, 2008); Dulce Delirium (2005) (Arditti Quartet, Centre Acanthes 2005, Metz; Atlantic Waves 2006, Londres; Festival Internacional de Aveiro, 2007); Fati Necessitas (2005) (GMCL, Matosinhos, 2006, IX Semana Cultural da Universidade de Coimbra, 2007); Aranea (2006) (Festival Música Viva 2006, Lisboa; XXVI Festival de Música de Leiria, 2008); Nocturna Itinera (2008) (44th International Summer Courses for New Music, Darmstadt, 2008; 2nd Blonay Workshop for Contemporary Quartet Music 2008; World Music Days 2015, Liubliana); In Occulto (2009) (Ciclos de Concertos Momentum, Aveiro, 2009; New Music Festival Transit 2009, Lovaina; Concert Series, City University, Londres, 2010); Sublime Volans (2010) (25.º aniversário da Miso Music Portugal, Instituto Franco-Português, Lisboa, 2010; Korea Foundation-Cultural Center Gallery, Seul, 2011; Guimarães 2012 – Capital Europeia da Cultura; Festival Música Viva 2014, O’culto da Ajuda, Lisboa; (Nagoya, 2020); Tempus Fugit (2010) (Concert Series 2015, McGill University, Montréal); Reditus ad vitam (2012) (Do Virtuosismo pianístico de Liszt à multi(n)disciplina do século XXI, Coimbra, 2013; Flame Festival, Florença, 2013); Escola Superior de Música de Lisboa, 2016); Instabile Tempus (2016) (Festival Música Viva 2016, Lisboa; No Feminino, Coimbra e Caldas da Raínha, 2020); Vacuum Corporis (2016) (Festival 20/21 Transit 2016, Lovaina); Desperatio (2018) (City University of London, 2018, Londres; SPA, 2019, Lisboa); Imaginis umbra est (2019) (Em Louvor da Água, Lisboa); Ludi Aeterni (2022) (O’culto da Ajuda, Lisboa, 2022; Teatro da Raínha, Caldas da Raínha, 2022).

Salientam-se também no seu portefólio, as criações fotográficas, nomeadamente: Continuum Simulacrum (2016) baseado no Capítulo No. 6 da obra The History of Photography in Sound de Michael Finnissy e a publicação da série Clausum (2017) (sete fotografias) em TEMPO, a Quarterly Review of New Music, Volume 71 – Issue 282 – October 2017 (Cambridge University Press).

Participou nas Academias de Verão do IRCAM (Paris), nos cursos Internacionais para a Nova Música (Darmstadt), nos Cursos do Centro Acanthes (Villeneuve-les-Avignon e Metz), nos Workshops da Gulbenkian para Jovens Compositores (Lisboa); em vários seminários com compositores como Emmanuel Nunes, Jonathan Harvey, Luca Francesconi, Hilda Paredes, Gérard Grisey, Brian Ferneyhough, Mauricio Kagel, Pascal Dusapin, Luc Brewaeys; em workshops experimentais e concertos com Arditti Quartet, os pianistas Ian Pace, Filip Fak e Yutaka Oya, Orquestra Gulbenkian, Grupo de Música Contemporânea de Lisboa, L’Ensemble Itinéraire, Sond’Ar-te Electric Ensemble, Remix Ensemble Casa da Música, OrchestrUtopica, Orchestre lyrique de Région Avignon-Provence, Ensemble Studio New Music; e com os maestros Guillaume Bourgogne, Sylvio Gualda, Sarah Ioannides, Igor Dronov, Christopher Bochmann, Pedro Neves, Pedro Amaral, Petter Sundkvist e Pedro Carneiro.











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