Vozes Acusmáticas - Projecto DME
Vozes Acusmáticas - Projecto DME
1. Instantes (2022) [ca. 12’] - Marta Domingues
2. Phonopolis (2003-2004) [ca. 7’] - Jaime Reis
3. O Encontro Inesperado do Diverso (2021) [ca. 8’] - Mariana Vieira
4. Estudo Acusmático (2023) [ca. 7’] - Cristóvão Almeida
Projeto DME
Direcção Artística e Produção: Jaime Reis e Mariana Vieira
Com o apoio:
Ministério da Cultura, DGArtes, Projeto DME - Dias de Música Electroacústica, Lisboa Incomum.
Notas de Programa:
Instantes procura ser um leque de momentos de introspecção. Percepção do corpo, do mundo, do tempo. “Ouve-me com o teu corpo inteiro.”, pede a Clarice.
O texto de Clarice Lispector, retirado de “Água Viva” (adaptado), é lido por Tiago Boto, Nuno Veiga, Juliana Campos, Sara Marita e também por mim. O material sonoro que dá vida à peça provém maioritariamente destas vozes, sendo que toda a narrativa construída tem o propósito de servir em absoluto o texto, sendo em episódios em que a própria palavra é som, ou em episódios em que o som serve a palavra de um modo quase madrigalesco.
Esta peça é ainda o resultado de um leque de influências de diversos compositores que inspiram o meu trabalho. Particularmente Annette Vande Gorne, na forma como compõe a voz e o texto, e a sua investigação sobre o espaço como parâmetro musical expressivo na música acusmática; Jaime Reis, na sua procura de polifonia de gestos e movimentos espaciais; Elizabeth Anderson cujas texturas complexas das peças “Les Forges de l'Invisible”, “Solar Winds” e “...and Beyond” surgem na minha peça como um sustento da narrativa de Lispector. E ainda Luciano Berio, que em “Visage” nos dá a conhecer a voz com uma verdadeira musicalidade.
Phonopolis (2003-04) surgiu da necessidade pessoal de tentar explorar fenómenos fonéticos específicos. Assumindo a poesia sonora enquanto uma entidade abstracta, passível de ser composta sob uma estrutura simples e essencialmente formada por aquilo que designo de "complementaridades fonéticas", desenvolvi várias possibilidades para isolar e perceber as implicações de aspectos específicos das suas características naturais e sócio-culturais. A estrutura consiste em 3 camadas: a primeira, baseada numa série numérica simples (relacionada com a transposições e harmonia); a segunda, baseada em fenómenos fonéticos específicos e a terceira, onde aplico uma interpretação semiológica dos sons criados, induzindo específicas reacções/induções (entidades humanas) através do uso de sons com identidades abstractas específicas naturais ou sociais. O resultado é um poema sonoro formado por sons de natureza onomatopeica que, sem ter significação semântica particular, possuem um sentido abstracto, que surge por especificidade do tratamento dos materiais e que se relaciona com a forma como falamos, com maior ou menor ênfase e força, tal como pode acontecer num poema, pretendendo criar algo o mais comunicante quanto possível.
Musicalmente, os elementos rítmicos e seu tratamento constituem o âmago de toda a peça, que está estruturada em 3 partes. 1 - exploração polifónica de linhas desenvolvidas a partir das referidas "complementaridades fonéticas"; 2 - canon; 3 - explorações tímbricas.
Esta peça foi estreada no festival "Synthèse", em Bourges (França) e interpretada em países como Portugal, Filipinas, Alemanha, Japão, Bélgica, Mónaco, Coreia do Sul, Brasil, Espanha e Turquia.
O Encontro Inesperado do Diverso
Peça livremente inspirada nos escritos de Maria Gabriela Llansol, onde convergem personagens de diferentes épocas e realidades. Interessou-me explorar a interação entre gravações de campo e samples recolhidos numa improvisação feita com um sintetizador modular, modificada através de processos como micromontagem. Formalmente, a peça está organizada em quatro momentos de texturas contrastantes.
Estudo Acusmático
“ Tinha que existir uma pintura totalmente livre da dependência da figura — o objecto — que, como a música, não ilustra coisa alguma, não conta uma história e não lança um mito. Tal pintura contenta-se em evocar os reinos incomunicáveis do espírito, onde o sonho se torna pensamento, onde o traço se torna existência. ”
Michel Seuphor (2021)
Marta Domingues (n. 2000) é compositora. Encontra-se a terminar o Mestrado em Composição na Escola Superior de Música de Lisboa, sob a orientação dos compositores Jaime Reis e Annette Vande Gorne, com quem estuda regularmente em Bruxelas, e a frequentar em simultâneo o Mestrado em Ensino da Música com o compositor Carlos Caires.
Colaborou na organização do Projecto DME e Lisboa Incomum entre 2020 e 2024. O seu catálogo inclui obras acusmáticas, mistas e instrumentais, solo e para diversas formações. Com a sua música procura ligações entre a prática musical acusmática e a instrumental, nomeadamente nos traços energéticos do som, e na sua relação de reciprocidade com o gesto e o movimento.
A sua música tem sido apresentada em diversos contextos e festivais de música contemporânea em Portugal, Irlanda do Norte, Bélgica, França, Alemanha, Áustria, Suécia e Chipre. Foi premiada no concurso Métamorphoses 2020 (Bélgica), Young Lion*ess of Acousmatic Music (Áustria) e obteve uma recomendação na 69a edição da Tribuna Internacional de Compositores (Holanda).
A sua música está publicada pela Influx/ Musiques et Recherches (Bélgica) e edições DME/Lisboa Incomum.
Colaborou na organização do Projecto DME e Lisboa Incomum entre 2020 e 2024.
Jaime Reis (n. 1983) é um compositor português.Estudou Composição e Música Electroacústica com João Pedro Oliveira, Emmanuel Nunes e K. Stockhausen. Continuou os seus estudos de doutoramento na Universidade Nova de Lisboa em Etnomusicologia.
O pensamento musical de Jaime Reis é informado pelo seu grande interesse pela investigação em ciências naturais e pela sua permanente atenção às tradições musicais - e, de facto, espirituais - asiáticas.
Um dos seus focos é a dinâmica das formas, forças e fluxos em música. Explora percursos polifónicos espaciais através de sistemas de som imersivos em forma de cúpula.
Outra característica marcante da sua música é a presença de conceitos complexos que sustentam a construção das suas peças, muito embora não distraindo o ouvinte da sua beleza sensível. As ideias funcionam como funções ocultas que, apesar do seu rigor intelectual, geram formas musicais voluptuosas.
Jaime Reis é professor de Composição e Música Electroacústica na Escola Superior de Música de Lisboa (ESML) e investigador no Instituto de Etnomusicologia da Universidade Nova de Lisboa. É director artístico do Festival DME e do Lisboa Incomum, que desenvolvem uma intensa actividade de investigação e criação de música erudita contemporânea.
O pensamento musical de Jaime Reis é informado pelo seu grande interesse pela investigação em ciências naturais e pela sua permanente atenção às tradições musicais - e, de facto, espirituais - asiáticas.
Um dos seus focos é a dinâmica das formas, forças e fluxos em música. Explora percursos polifónicos espaciais através de sistemas de som imersivos em forma de cúpula.
Outra característica marcante da sua música é a presença de conceitos complexos que sustentam a construção das suas peças, muito embora não distraindo o ouvinte da sua beleza sensível. As ideias funcionam como funções ocultas que, apesar do seu rigor intelectual, geram formas musicais voluptuosas.
Jaime Reis é professor de Composição e Música Electroacústica na Escola Superior de Música de Lisboa (ESML) e investigador no Instituto de Etnomusicologia da Universidade Nova de Lisboa. É director artístico do Festival DME e do Lisboa Incomum, que desenvolvem uma intensa actividade de investigação e criação de música erudita contemporânea.
A sua música foi tocada em todo o mundo por ensembles e músicos como Christophe Desjardins, Pierre-Yves Artaud, Aida-Carmen Soanea, Ana Telles, ensemble Fractales, Ensemble Horizonte, Grupo de Música Contemporânea de Lisboa, Machina Lírica, Orchestre de Flûtes Français e Aleph Gitarrenquartett.
Mariana Vieira (Sintra, 1997) completou a licenciatura em Composição e o mestrado em ensino de música na Escola Superior de Música de Lisboa, onde estudou com Carlos Caires e Jaime Reis.
O seu catálogo inclui música acusmática, mista e instrumental, para formações de música de câmara, ensemble, orquestra e a solo, bem como obras didácticas.
A sua música foi apresentada em festivais como Young Euro Classic (Alemanha), L'Espace du Son (Bélgica), Audio Art (Polónia), Electroacoustic Music Days (Grécia) Crossroads e Echoes Around Me (Áustria), Monaco Electroacoustique (Mónaco), Aveiro_Síntese e Música Viva (Portugal).
Recebeu prémios como o “European Composer Award” (Alemanha) em 2017 com a sua peça "Raiz", escrita para a Jovem Orquestra Portuguesa (JOP), o “Electronic Music Composition Contest” da revista Musicworks (Canadá) em 2021 e o concurso “Young Lion*ess of Acousmatic Music” promovido pelo “The Acousmatic Project” (Áustria) em 2022.
Além da sua produção composicional, interessa-se por desenvolver projectos artísticos que combinem música e tecnologia, trabalho que concretiza enquanto membro da equipa do projecto DME, do espaço Lisboa Incomum e da associação EMSCAN. É Professora Assistente na Escola Superior de Artes Aplicadas (Castelo Branco, Portugal).
Cristóvão Almeida completou a usa primeira licenciatura em 2022 na ESART na variante de Formação Musical, Direção Coral e Instrumental (FMDCI) em 2022. Atualmente, está a finalizar a sua segunda licenciatura na ESML em Composição com o compositor Carlos Caires.
Enquanto compositor, a sua peça “Until Quantum” foi seleccionada no âmbito do projecto “Música em Criação” para apresentação nos Reencontros de Música Contemporânea 2023, organizados pela associação Arte no Tempo.
A sua peça acusmática, Estudo Acusmático, foi estreada no dia 10 de Janeiro de 2024 após ter sido selecionada no âmbito iniciativa da Associação Claraboia, no projecto Decomposição - Mostra de Compositores Emergentes. A mesma obra foi ainda tocada nos Festivais de Outono de 2024 em Aveiro, no Electroacoustic Music Days 2024 na School of Fine Arts in Athens, na Grécia e será tocada no Festival Música Contemporânea Évora 2024.
A sua obra, Foco no Desfoque, encomenda de Tiago Coimbra, para oboé e electrónica em tempo real, até oito canais foi estreada no Lisboa Incomum a 22 de Junho de 2024. No âmbito didático recebeu também uma encomenda da associação EMSCAN para desenvolver uma obra para guitarra portuguesa e electrónica fixa. Dentro do mesmo contexto educacional foi-lhe encomendada também uma obra para violino e electrónica fixa pela associação Arte no Tempo, apesar de ainda não ter sido estreada.
A sua peça acusmática, Estudo Acusmático, foi estreada no dia 10 de Janeiro de 2024 após ter sido selecionada no âmbito iniciativa da Associação Claraboia, no projecto Decomposição - Mostra de Compositores Emergentes. A mesma obra foi ainda tocada nos Festivais de Outono de 2024 em Aveiro, no Electroacoustic Music Days 2024 na School of Fine Arts in Athens, na Grécia e será tocada no Festival Música Contemporânea Évora 2024.
A sua obra, Foco no Desfoque, encomenda de Tiago Coimbra, para oboé e electrónica em tempo real, até oito canais foi estreada no Lisboa Incomum a 22 de Junho de 2024. No âmbito didático recebeu também uma encomenda da associação EMSCAN para desenvolver uma obra para guitarra portuguesa e electrónica fixa. Dentro do mesmo contexto educacional foi-lhe encomendada também uma obra para violino e electrónica fixa pela associação Arte no Tempo, apesar de ainda não ter sido estreada.
Integra as equipas de produção do Projecto DME, Lisboa Incomum e EMSCAN.
Participou ainda em seminários/workshops com Annette Vande Gorne, com a qual teve sessões individuais, Daniel Teruggi, Jonty Harisson, Thomas Gorbach, Enrique Mendonza, Åke Parmerud, Jaime Reis, Franck Bedrossian, entre outros.
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