Concerto Acusmático & Workshop de Introdução à Música Electroacústica (Fafe)

 



Concerto Acusmático & Workshop de Introdução à Música Electroacústica

Workshop | 5 DEZ de 2025, 16h00 | Sala Manoel de Oliveira (Fafe)

Concerto | 5 DEZ de 2025, 19h00 | Sala Manoel de Oliveira (Fafe)


O Projecto DME em parceria com a Associação de Arte Contemporânea Phoebus e a Academia de Música José Atalaya apresenta um concerto acusmático com obras de referência difundidas num sistema octofónico concebido pelo Projecto DME/Lisboa Incomum, antecedido de uma atividade prática de introdução à música electroacústica destinada a jovens a frequentar o ensino artístico especializado.


Entrada gratuita.





PROGRAMA


Mariana Vieira - Meditação sobre a paisagem do Alentejo - 2025

Annette Vande Gorne - Cosmographie - 2003

Jaime Reis - Corpos Sonoros I: reencarnação - 2023-24

John Chowning - Turenas - 1972

Jaime Reis - Fluxus, pas trop haut dans le ciel - 2017


                                                                                                                                      espacialização: Jaime Reis

    




Mariana Vieira - Meditação sobre a paisagem do Alentejo - 2025

Esta peça foi composta no âmbito de uma encomenda do projeto “Lá nas Árvores” do Évora_27 - Capital Europeia da Cultura, uma parceria entre a Universidade de Évora, o Projecto DME e a Associação Lisboa Incomum.

 Meditação sobre a paisagem do Alentejo utiliza como principal matéria sonora o som gravado de um chocalho fabricado na empresa Chocalhos Pardalinho, uma marca sonora indissociável da região do Alentejo.

Este som principal foi manipulado para criar suas variações, nomeadamente transposições que permitiram simular uma ‘orquestra’ de chocalhos a partir de um som inicial. Além desta manipulação, foi relevante na criação da peça o diálogo com outros sons gravados. Estes relacionam-se com o primeiro através da coleção de uma série de marcas que, de uma forma livre, associei à paisagem sonora alentejana (excertos de uma obra de Duarte Lobo, o canto de um pássaro e vozes que, sem terem conteúdo semântico, emergem da textura electrónica). Por outro lado, surgem também outros sons com uma associação mais direta à natureza do próprio som do chocalho –o seu carácter percussivo ou de fricção. O título visa assinalar o carácter meditativo que procurei inscrever na peça, convidando a uma escuta imaginativa e livre para criar as suas próprias associações com os sons utilizados. 



Annette Vande Gorne - Cosmographie - 2003

Música criada para uma instalação da escultora Anne Liebabergh: Imagine spheres of various sizes moving in a crisscross of straight lines, com objectos em movimentos oscilantes e de balanço, da direita para a esquerda, de cima para baixo, ressaltando em velocidades variadas e decrescentes, procurando uma relação espaço-temporal explorada musicalmente por Annette Vande Gorne, espacializada em 8 altifalantes, com interações sonoras adicionais, despoletadas pelo público, concebidas por André Defossez. O projeto como um todo evoca uma galáxia: oscilação e ressalto, duas leis matemáticas que descrevem certos movimentos na Terra e no cosmos.

Esta versão da obra foi realizada para apresentação em concerto, mantendo vivas as metáforas musicais de movimento.



Jaime Reis - Corpos Sonoros I: reencarnação - 2023-24

Encomenda do Projecto DME (com apoio para este projecto da DGARTES / Min. da Cultura, Gulbenkian Foundation e Câmara Municipal de Lisboa) & Festival Primavera / Conservatório Regional de Música Dr. José de Azeredo Perdigão de Viseu.

Surgiu de um projeto pedagógico e de criação comunitária — os instrumentos musicais foram criados com recurso a materiais reciclados (objet trouvé) e construídos segundo os princípios de criação de material sonoro propostos por Pierre Schaeffer, relacionados com o seu conceito de “corpo sonoro”. Através de processos de improvisação e de sessões de gravação utilizando os objetos escultóricos referidos, milhares de objetos sonoros reencarnam os gestos, os movimentos e os estados de energia dos quais emerge o idios colectivo.



John Chowning - Turenas - 1972

Esta obra em fita magnética foi gerada por computador faz uso extensivo de dois grandes

desenvolvimentos na música computacional, pioneiros e desenvolvidos por John Chowning, que trabalhava no Laboratório de Inteligência Artificial da Universidade de Stanford. O primeiro envolve a síntese de fontes sonoras em movimento num espaço sonoro de 360 ​​graus, que tem em conta os efeitos do efeito Doppler. O segundo foi um avanço na síntese de timbres “naturais” (bem como quase “sobrenaturais”) de uma forma simples, mas elegante, utilizando modulação de frequência controlada com precisão. Este é o contexto técnico, mas a peça não trata desse contexto.

O título “Turenas” é um anagrama de “Natures” (Naturezas), evocando a forma como os sons “percorrem” o espaço, transparentes e puros, produzidos pelos meios tecnologicamente mais sofisticados, mas que tendem a soar perfeitamente naturais, como se um sonho se pudesse tornar realidade. - notas escritas por Ivan Tcherepnine (1943-1998), Professor na Universidade de Harvard entre 1972 e 1998



Jaime Reis - Fluxus, pas trop haut dans le ciel - 2017

Esta peça pertence ao ciclo Fluxus, cujas peças são inspiradas em elementos físicos e onde são desenvolvidos elementos musicais relacionados com a mecânica dos fluidos. Outras peças deste ciclo são: Fluxus, Dimensionless Sound, para flauta e electrónica (encomenda do Festival for the Liberation of Sound and Image, Paris, 2012), Fluxus, Transitional Flow (encomenda do Festival Primavera, 2013), Fluxus, Lift (estreia no Monaco Electroacoustique 2013), entre outras composições em progresso. Esta peça em particular está centrada em ideias relacionadas com o que chamei de paisagens sonoras "aéreas". O desenvolvimento formal é baseado em 3 pilares  inspirados pelos conceitos de Bernie Krause: geofonia, biofonia e antropofonia (géophonie, biophonie, anthropophonie). As secções estão interligadas por movimentos espaciais específicos que revelam ou escondem os seus percursos, pelo reconhecimento de fontes sonoras e outros eventos de modo a criar momentos que são mais ou menos claros na sua própria percepção. A espacialização sonora actua como um parâmetro musical central, onde a distribuição do som pelos altifalantes está relacionada não só com diferentes tipos de movimentos e "formas" espaciais, mas também com mudanças espectrais, velocidades diferentes e outros parâmetros que tornam os movimentos espaciais (percursos) mais, menos ou até mesmo irreconhecíveis. Algumas "formas" ou “percursos” espaciais relacionam diferentes parâmetros de modo a criar movimentos a que chamei de "rotações elípticas", "espirais", "rotações", "explosões espectrais”, relacionadas com movimentos ascendentes ou descendentes do som ou "sucções de som”, "paredes de som", "pontos", "formas geométricas", "curvas de lissajous", "enxames de sons”, entre outros. Tais "formas" / “percursos” não se destinam a serem ouvidos como um catálogo de movimentos, mas relacionam-se com aspectos formais da macro-estrutura, e também com o "fluxo de energia" que está presente em cada um dos mundos sonoros.






BIOGRAFIAS


Mariana Vieira (Sintra, 1997) completou a licenciatura em composição e o mestrado em ensino de música na Escola Superior de Música de Lisboa (ESML), sob orientação de Jaime Reis.

O seu catálogo inclui música acusmática, mista e instrumental, para formações de música de câmara, ensemble, orquestra e a solo, bem como obras didácticas.

A sua música foi apresentada em festivais como Young Euro Classic e BachFest (Alemanha), L’Espace du Son (Bélgica), Crossroads e Echoes Around Me (Áustria), Monaco Electroacoustique (Mónaco), Aveiro_Síntese e Música Viva (Portugal).

Foi premiada com o “European Composer Award” (Alemanha), em 2017, com a sua peça Raiz, escrita para a Jovem Orquestra Portuguesa (JOP), o “Electronic Music Composition Contest” da revista Musicworks (Canadá), em 2021, e o concurso “Young Lion*ess of Acousmatic Music”, promovido pelo “The Acousmatic Project” (Áustria), em 2022.

Além da sua produção composicional, tem trabalhado em estruturas artísticas como o Projecto DME, o espaço Lisboa Incomum e a associação EMSCAN.

Enquanto bolseira da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, frequenta actualmente o Doutoramento em Artes Performativas e da Imagem em Movimento (especialização em Composição), na FBAUL (Universidade de Lisboa), em colaboração com o IPL/ESML, sob a orientação de Carlos Caires e de António Sousa Dias. É Professora Assistente Convidada na Escola de Artes da Universidade de Évora desde 2025. - mariana-vieira.net


John Chowning (Salem, New Jersey, 1934), investigador e compositor, estudou composição em Paris com Nadia Boulanger, doutorando-se mais tarde em composição na Universidade de Stanford, onde estudou com Leland Smith. Com a colaboração de Max Mathews e David Poole, desenvolveu em 1964 um programa informático para geração de sons electrónicos utilizando o computador do laboratório de inteligência artificial de Stanford, e que foi a primeira implementação jamais realizada de um sistema informático-musical.

Em 1967, John Chowning descobre a síntese sonora por Modulação de Frequência, método que viria a popularizar-se mundialmente com a sua aplicação no sintetizador FM DX7 da Yamaha.

John Chowning recebeu diversas encomendas e bolsas de inúmeras instituições americanas e europeias, tendo desenvolvido o seu trabalho nos mais importantes centros de música electrónica.

Ensinou composição e síntese electrónica na Universidade de Stanford e foi fundador do CCRMA (Center for Computer Research in Music and Acoustics). Em 1992, John Chowning recebeu a Osgood Hooker Professorship para Belas Artes, na Universidade de Standford e, em 2002, um Doutoramento Honoris Causa pela Universitée de la Méditerranée.


Jaime Reis (Coimbra/ Seia, 1983), estudou Composição e Música Electroacústica com João Pedro Oliveira, Emmanuel Nunes e K. Stockhausen. Continuou os seus estudos de doutoramento na Universidade Nova de Lisboa em Etnomusicologia.

O pensamento musical de Jaime Reis é informado pelo seu grande interesse pela investigação em ciências naturais e pela sua permanente atenção às tradições musicais - e, de facto, espirituais - asiáticas.

Um dos seus focos é a dinâmica das formas, forças e fluxos em música. Explora percursos polifónicos espaciais através de sistemas de som imersivos em forma de cúpula.

Outra característica marcante da sua música é a presença de conceitos complexos que sustentam a construção das suas peças, muito embora não distraindo o ouvinte da sua beleza sensível. As ideias funcionam como funções ocultas que, apesar do seu rigor intelectual, geram formas musicais voluptuosas.

Jaime Reis é professor de Composição e Música Electroacústica na Escola Superior de Música de Lisboa (ESML) e investigador no Instituto de Etnomusicologia da Universidade Nova de Lisboa. É director artístico do Projecto DME (desde 2003) e do Lisboa Incomum (desde 2017), que desenvolvem uma intensa actividade de investigação e criação de música erudita contemporânea.

A sua música foi tocada em todo o mundo por ensembles e músicos como Christophe Desjardins, Pierre-Yves Artaud, Aida-Carmen Soanea, Ana Telles, ensemble Fractales, Ensemble Horizonte, Grupo de Música Contemporânea de Lisboa, Machina Lírica, José Teixeira & Luís Miguel Leite, Orchestre de Flûtes Français e Aleph Gitarrenquartett. - Bio. redigida por Monika Streitová, flautista e Professora na Universidade de Évora; retirada de jaimereis.pt; actualizada em Maio 2020




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